Do Jornal do Commercio

A 17 dias de ser entregue oficialmente pela Prefeitura do Recife, uma das mais emblemáticas obras da gestão do prefeito João Paulo, a construção do Corredor Leste-Oeste, no Centro, está gerando polêmica entre a população. Pessoas que trabalham ou circulam pela Avenida Conde da Boa Vista, via mais beneficiada pelo projeto, duvidam da principal eficiência da obra: reduzir o tempo de viagem nos ônibus e, conseqüentemente, aliviar o trânsito na avenida. A travessia de pedestres entre a calçada e as paradas dos coletivos também é outra dificuldade apontada com as mudanças.

O maior questionamento dos usuários das 107 linhas de ônibus que passam pela Conde da Boa Vista é o espaço deixado para a ultrapassagem dos coletivos nos pontos de embarque e desembarque. As pessoas afirmam que os ônibus não têm conseguido fazer a manobra, formando filas quilométricas nos horários de maior movimento – início da manhã e à noite. O fato de a obra ainda estar sendo concluída, não consegue amenizar o temor do povo.

“Basta olhar para perceber que não há espaço suficiente para um ônibus cortar o outro. Não tem como. A prefeitura pode até dizer que vai caber, mas eu duvido. Reconheço as vantagens da obra, principalmente a recuperação das calçadas e o conforto proporcionado nas paradas, só que o engarrafamento vai continuar”, afirma a gráfica Cynthia Gonçalves, 23 anos.

Pelo projeto do corredor, os ônibus têm uma área de seis metros (três metros em cada faixa) para acomodar dois coletivos paralelos na altura das paradas, que agora ficam no meio da via. Tecnicamente, o espaço é suficiente para a ultrapassagem, mas será necessário empenho por parte dos motoristas para embarcar ou desembarcar os passageiros. Anteontem, por volta das 18h30, quando a reportagem percorreu a Conde da Boa Vista, o que se viu foram filas de ônibus.

A falta de espaço estaria se refletindo no tempo de viagem que, segundo os passageiros, aumentou em 20 minutos. “Eu desisti de passar pela Conde da Boa Vista. Mesmo tendo mais opção, prefiro caminhar até a Rua da Aurora e pegar um coletivo lá”, disse a corretora de seguros Valdete Menino, 46, que trabalha na avenida. A distância entre as novas paradas – cerca de 500 metros – também foi criticada pela população.

O Corredor Leste-Oeste é uma faixa exclusiva para ônibus ligando a Zona Oeste ao Centro. Terá continuidade a partir da Avenida Caxangá, seguindo pela Rua Benfica, Derby, até a Rua da Aurora. Tem custo de R$ 12 milhões e beneficiará 900 mil passageiros diários.

Número de ônibus na avenida não vai ser reduzido

O receio das pessoas em relação à permanência do engarrafamento na Avenida Conde da Boa Vista depois da conclusão do Corredor Leste-Oeste parece ter fundamento. Isso porque a quantidade de ônibus que trafega diariamente pela avenida não vai mudar. A redução no número de linhas e coletivos ficará para uma segunda etapa. A via continuará recebendo, por hora, 596 ônibus, que fazem 6.974 viagens diárias em 107 linhas.

Ontem, a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) informou que a revisão da rede e a conseqüente racionalização das linhas que superlotam a Conde da Boa Vista será feita posteriormente, caso haja necessidade. “A prefeitura encomendou um estudo que mostrou ser viável o funcionamento do corredor com as linhas existentes. Vamos iniciar a operação assim e, caso aconteça algum problema, faremos ajustes. Com a conclusão da reforma no Terminal da Caxangá, a rede será revista e haverá uma racionalização das linhas”, explicou a coordenadora de planejamento da EMTU, Cristina Aroucha.

O terminal da Caxangá está sendo reformado pela prefeitura e deverá ficar pronto em junho, ao custo de R$ 1,3 milhão. No caso de mudanças no Leste-Oeste, as primeiras linhas a serem retiradas da Conde da Boa Vista serão as que trafegam pela via sem fazer paradas. Os pontos são apenas a partir da Rua dos Hospício, no sentido subúrbio-Centro.

A Prefeitura do Recife limitou-se a comentar os questionamentos da população sobre o Leste-Oeste pela assessoria de imprensa. Garantiu que a ultrapassagem dos ônibus será possível nas paradas e que os pedestres terão faixas para fazer a travessia com segurança.