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Artigo: Mané todos os bichos

{ Posted on 17:04 by Edmar Lyra Filho }
Por Gustavo Krause

Era uma figura folclórica de Vitória de Santo Antão, minha cidade natal.
Jogava nos vinte e cinco bichos. Ganhava, mas perdia. Perdia, mas ganhava ainda que fosse menos do que apostava. Era o "mané" da gíria contemporânea.

Outro Mané, o Mané "Raça Boa", nada besta, era o passador de bicho que, todo dia santo, na hora do almoço, passava na casa dos fregueses na Rua Melo Verçosa. "Fezinha" feita, "Raça Boa" garantia o seu sustento e tirava a barriga da miséria na casa dos hospitaleiros clientes. O apelido vinha de uma cor de pele avermelhada a exalar saúde, pensava eu, mas que nada, era sintoma da má função hepática. Cachaça. O apelido homenageava, também, a boa índole, insuficiente, porém, para convencer "Mané Todos os Bichos" do mau negócio que fazia jogando de Avestruz a Vaca.

Mal sabia "Raça Boa" que seu inocente ofício tinha uma origem remota (1892); que fora uma casual, porém, genial jogada de marketing do Barão de Drumonnd, assessorado por um marqueteiro mexicano, Ismael Zevala, para suprir a boquinha da subvenção imperial, eliminada pela República, que mantinha o jardim zoológico do ilustre cortesão (o ingresso de entrada recebia a um prêmio vinte vezes maior caso fosse o sorteado dentre 25 bichos listados e aí o zoológico bombou); mal sabia que era um contraventor (Decreto-Lei 3688 de 03/10/41) ao fazer o seu trabalho consagrado pela força do costume que se impôs, dizem os juristas, contra legem.

Jamais o nosso passador de pules, documento respeitável e de incontestável liquidez, imaginaria que, décadas depois, em muitos estados brasileiros (o que não é o caso de Pernambuco) o jogo do bicho seria capturado pela delinqüência e deixaria de simbolizar a ingênua possibilidade do ganho fácil, mágico, sem o suor do rosto.

Se "Raça Boa" fosse um intérprete da sociedade brasileira não se surpreenderia com a ambição do ganho fácil. Não era assim que a nobreza colonizadora e parasitária vivia? Traficando escravos? Não é assim que muitos de seus herdeiros vivem, sem títulos de nobrezas, mas em conluio com o poder: ora sorvendo prebendas das tetas públicas, ora comercializando influências e sempre metendo a mão, descaradamente, no dinheiro público? O que há de imoral e ilícito na atividade do jogo em que dez modalidades (loteca, mega-sena, lotofácil, loteria federal, lotogol, lotomania, quina, loteria instantânea, dupla sena e timemania) são exploradas (e monopolizadas) pelo governo, leia-se Caixa Econômica Federal?

No meu Estado, bicheiro não é criminoso. Se o bicho foi capturado pelo tráfico, pelo banditismo, pelo crime organizado que se combata o crime; que se legalize o jogo do bicho. Já era tempo. Neste sentido, há vários projetos tramitando no Congresso e se não é legalizado é porque há uma relação promíscua e vantajosa entre bicheiros e parcela considerável de poderosos, travestidos de políticos que não passam de delinqüentes.

Se não se pode ou não se deve repetir a histórica desobediência do Governador João Agripino diante da ação do governo Castelo Branco, reafirmando o "NEGO" da bandeira paraibana, que se use a força política do Estado, por meio dos seus representantes, para legalizar o jogo e para que o Brasil saiba que, aqui, o jogo não é um covil de bandidos.

Feito isto, milhares de "Raças Boas" continuarão decentemente a sustentar suas famílias.

Mais do isto, um sistema de jogo genuinamente popular, genialmente concebido, socialmente legítimo, culturalmente enraizado continuará a dar lição de capacidade de organização, de respeito ao valor da confiança e de crença nos sonhos.

No jogo do bicho, vale dinheiro vivo e a pule, o cartão da confiança. Cartão corporativo pode comprar de tapioca ao botox, mas não paga o jogo no grupo, dezena, centena e milhar do primeiro ao quinto.

No jogo do bicho, valem os sonhos: o sonho de ganhar uma grana extra; o sonho (Freud, em Viena, usou para estudar o inconsciente), por aqui, serve para associar idéias bem simplezinhas. Sonhou com a sogra? É cobra na cabeça; sonhou com um corrupto? Joga no rato, mas não tem na lista; então joga no gato, quem sabe, um dia, ele não come os ratos?

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