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A água e o Recife: a cidade-mangue

{ Posted on 19:02 by Edmar Lyra Filho }
Por Mendonça Filho

No último dia 22, Dia Mundial da Água – data criada pelas Nações Unidas durante a ECO 92, no Rio de Janeiro – as populações humanas tiveram pouco a celebrar. A falta de água atinge 1,2 bilhão de pessoas no planeta e, acada 20 segundos, uma criança morre em decorrência do saneamento inadequado que aflige 2,6 bilhões de pessoas. A água é um bem precioso – sua valorização, cada vez mais, é um imperativo de sobrevivência, e a sua oferta, bem como o seu uso, são indicativos de qualidade de vida.

O Recife nasceu da água e o seu crescimento forjou a cidade-mangue. No entanto, o recifense também sofre com a falta de água. O cenário na nossa cidade é preocupante: no quesito abastecimento, 190 mil pessoas não têm ligação com a rede pública, o que, somado aos recifenses submetidos ao racionamento, faz de nossa cidade um mercado de destaque para os carros-pipa, apenas 36% do esgoto é coletado e 21% recebe tratamento.

As péssimas condições de saneamento fazem dessas pessoas cidadãos de terceira classe. São pessoas sem cidadania hídrica, vulneráveis a entrar para a triste estatística das doenças causadas pela água poluída. São consideradas doenças hídricas: cólera, diarréia, dengue, febre amarela, febre tifóide, hepatite, malária e filariose.

Precisamos recuperar a identidade do Recife e fortalecer a ligação de raiz entre o cidadão e a água. Afinal, em nossa cidade, a visão dos rios e do mar revela a natureza generosa que pede atenção e cuidado. Do consumo racional dos recursos hídricos ao respeito ambiental pelos leitos, margens e mananciais, é dever do gestor municipal devolver à cidade a convivência harmoniosa com o seu maior elo natural.

O aquecimento global e as transformações no clima dele decorrentes podem elevar a quantidade e a intensidade de fenômenos como enchentes, furacões e a desertificação. E o Recife destaca-se entre as cidades na lista das mais vulneráveis ao efeitos do aquecimento global. O avanço do mar está aí num eterno sinal de alerta. E não podemos continuar a fazer de conta de que podemos enfrentar este problema com soluções paliativas.

Atuar de forma emergencial visando a integração de esforços para definição de solução definitiva para contenção do avanço do mar na orla metropolitana, com destaque prioritário de recursos pelo município do Recife para os bairros de Boa Viagem, Pina e Brasília Teimosa. Para tanto, mobilizar os agentes públicos – Universidade Federal de Pernambuco, Governo do Estado, Prefeituras de Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Paulista, entidades ambientais e o setor privado no sentido de acelerar os trabalhos de projetamento e captação de recursos.

Por outro lado, a administração de um recurso escasso e precioso como a água requer instrumentos novos de controle e repartição. Ao vetar o projeto de lei que instituía o Proverde – Programa de Edificações Verdes da Cidade do Recife – de autoria da vereadora Priscila Krause, o prefeito João Paulo se colocou em oposição frontal à tendência dos gestores municipais em todo o mundo. A incorporação da componente ambiental à administração pública, seja pela ação direta, seja na adoção de incentivos que possibilitem novos hábitos, é um caminho sem volta.

O veto do prefeito a um projeto que permitia mecanismos de estímulo para a energia alternativa e a racionalização da utilização da água em novos prédios, tem como conseqüência o atraso do Recife em direção àquele caminho. Apenas para dar alguns exemplos. Em três anos, de 1994 a 1996, a Prefeitura de Nova York substituiu mais de um milhão de bacias sanitárias, obtendo uma economia de 216 milhões de litros de água por dia. O investimento municipal com o financiamento das trocas foi recuperado em quatro meses.

No Japão, o reaproveitamento das águas servidas é uma realidade prevista no código de construção civil: os recursos hídricos que saem pelos ralos dos banheiros vão por tubulações independentes e retornam para as bacias sanitárias, somente então seguindo para o esgoto (e mesmo lá podendo ser tratado para fins industriais). O sistema de reuso existe em várias cidades, sendo tecnicamente viável para qualquer centro urbano. Em relação às descargas de banheiro, vale notar que, no Brasil, estima-se que um terço do consumo de água residencial tenha esse destino, ampliando a importância de sua racionalização.

Outra questão relevante para a gestão hídrica é o lixo. O lixo doméstico e industrial é o grande vilão de poluição dos rios e águas subterrâneas. Cabe ao poder público municipal, neste caso, assumir a responsabilidade plena pelo problema, além de patrocinar campanhas educativas eficientes, promover a modernização da legislação pertinente, e ainda, apoiar iniciativas de coleta seletiva e manejo dos resíduos sólidos, tendo como objetivo a reciclagem.

Para que o recifense tenha pela água o zelo que merece a cidade - para que o descaso e o desperdício não persistam - e a ameaça de sua ausência não continue a assustar a todos nós, submeterei aos recifenses propostas visando um resgate permanente dos cursos d’água, em especial os rios Capibaribe, Beberibe, Morno, Tejipió, Jiquiá, Moxotó, Camaragibe, Pina e Jordão. Propostas formuladas com a participação da população e de especialistas, conferindo racionalidade ao uso dos recursos hídricos e cuidando de forma intensiva do meio ambiente, em direção a uma convivência saudável mem e a natureza.

Para concluir, vale recordar que a chamada “agenda marrom”, que se debruça sobre os problemas relacionados ao meio ambiente urbano, é tão ou mais crucial para o planeta quanto a tradicional agenda verde. E ainda, como não se cansam de demonstrar os números, em todos os casos de degradação ambiental, os mais atingidos e prejudicados são aqueles que dependem de maior proteção, os mais pobres.

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