O Recife de amanhã
{ Posted on 13:41
by Edmar Lyra Filho
}
Por Mendonça Filho
Os grandes centros urbanos do século 21 estão em formação. Seu tamanho atual é apenas um indicativo do destino que a encruzilhada da metropolização reserva para os aglomerados humanos em todo o planeta.
As metrópoles e sua história se deparam com várias escolhas a fazer para que mantenham ou alcancem a sua relevância – ou percorram o novo século em decadência. E, nesse contexto, Recife tem tudo para ocupar um lugar de destaque no cenário regional e nacional.
Tem tudo para ser uma cidade melhor: tem cultura, tem história, tem tecnologia, tem beleza e, acima de tudo tem um povo trabalhador que deseja ter qualidade de vida. Mas para discutir o Recife do futuro é preciso não ignorar o passado.
O Recife de ontem, menos populoso, era mais habitável, "andava" com rapidez e conforto. Ainda tomando as ruas da cidade como referência, era possível caminhar sem medo. Casas de muro baixo, com jardins expostos, e praças desprovidas de grades contribuíam para um nível de convivência sadio. Famílias se encontravam nas calçadas enquanto as crianças brincavam no espaço público.
Hoje, tendo de conviver com a explosão populacional comum aos grandes centros urbanos, Recife está mal cuidada e não oferece a qualidade de vida desejada para a maioria dos seus moradores.
A malha viária não dá conta da demanda por transporte, o que torna a movimentação dentro da cidade uma ação lenta e estressante.
As calçadas e beiras de ruas não permitem a mobilidade do cidadão.
A precariedade na prestação dos serviços de saúde e educação coloca o Recife em situação desfavorável quando comparada as outras capitais do País.
Mas é a insegurança o centro das preocupações dos cidadãos recifenses. A qualquer hora do dia ou da noite, sair de casa é uma aventura, voltar para casa uma temeridade – e até ficar em casa é um risco que assusta a população.
O poder local, através da Prefeitura, tem de encarar de frente o seu papel no combate a violência, que está diretamente associado ao conceito de melhoria das condições de vida digna do povo e ao convívio social saudável.
O município não tem o poder de polícia na redução da criminalidade, mas tem como sua atribuição intervenções urbanísticas, como a recuperação de espaços degradados, melhoria da mobilidade, pavimentação de ruas e calçadas, ordenação do comércio ambulante, investimento em equipamentos públicos de qualidade – escolas, postos de saúde e áreas de lazer.
A prioridade é urbanizar as comunidades pobres, orientando os investimentos públicos para equilibar a cidade, eliminando os bolsões de miséria e abandono. Numa visão ampla de combate à criminalidade, a juventude deve ser um dos focos das políticas públicas.
Infelizmente, a nossa juventude no Recife carece de oportunidades como educação de qualidade, áreas de lazer, profissionalização que propiciem os jovens perspectiva de futuro longe dos apelos do crime e da marginalidade.
O poder local pode ser o agente catalizador dessas transformações desempenhando o seu papel e fazendo parcerias com outros poderes e, principalmente, com o Governo Estadual e o Governo Federal nessa verdadeira "guerra" pela redução da criminalidade.
O Recife que queremos para sempre não é o que vemos e vivemos hoje.
Tão pouco vem a ser a cidade de tempos idos, claro, não podemos nem desejamos voltar no tempo. A cidade cresceu, porém, não conseguiu amadurecer em sua ocupação e organização urbana.
Pior, o que ocorreu nos últimos anos foi uma degeneração do tecido e das relações urbanas no Recife. E esta é uma responsabilidade do poder público, especificamente da atual gestão municipal. Os contrastes, dificuldades e problemas do Recife em nada diminuem o fascínio da nossa cidade como o lugar para viver, conviver, trabalhar e exercer plenamente a cidadania. Unidas sob a boa gestão, as possibilidades, uma vez postas em prática, serão capazes de melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes.
O Recife de amanhã necessita, portanto, de uma nova gestão, que enfrente os problemas estruturais com seriedade e não se enrede em ingerências de ambígua finalidade.
A nova gestão deverá ser de um lado, a gestão do cotidiano, ajudando o cidadão a carregar o fardo nosso de cada dia; de outro lado, a gestão do futuro, visionária, ajudando o cidadão a manter a esperança de que outra cidade é possível. Uma gestão mais próxima dos problemas e das soluções. Mais próxima das pessoas de fato, e não da propaganda pra fora. Por que a proximidade?
A proximidade enxerga a grandeza das coisas simples e pequenas: a cidade limpa, a rua iluminada, a praça viva e compartilhada por todos, as pontes decentemente incorporadas à paisagem única da cidade e as pontes sociais solidamente construídas de modo a promover a inclusão social, aproximar a cidade partida entre os poucos que são ricos e os muitos que são pobres.
É preciso cuidar de verdade das pessoas.
Temos o potencial criativo, enquanto coletividade, para conduzir a nossa cidade para um novo tempo de justiça social, prosperidade e qualidade de vida daqui por diante. A cidade desejada desenha o futuro a partir da definição de rumos, mistura de sonho e utopia concreta, que se realizam por meio de projetos corretamente elaborados e ações consistentemente realizadas.
O Recife de amanhã terá a feição que escolhermos hoje.
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