Por Sérgio Augusto Silveira*

O início do século vinte no Brasil foi marcado por uma conquista que já se espalhava pelo mundo, ouseja, o voto direto, popular e secreto. Essa conquista era considerada inadmível anteriormente pelos que faziam leis ou integravam as elites do poder. Consideravam uma coisa absurda que uma “pessoa qualquer” viesse a participar da escolha dos governantes e legisladores.

Esse elitismo foi varrido pelo avanço da concepção dos direitos universais, e que culminou com a Revolução de Trinta, que introduziu também o voto das mulheres. Houve aqui e ali interrupções nesse processo, mas prevaleceu o direito dos “quaisquer”.

Hoje, vemos de volta a concepção elitista na figura dos que fazem o Tribunal Superior Eleitoral, os quais não admitem que os candidatos usem a grande conquista da comunicação universal em nossos dias, ou seja, a Internet, para, livremente, enviarem suas mensagens aos eleitores e fazerem propaganda de campanha eleitoral. Para os proibidores elitistas – que ainda não entenderam o que significa a presença da rede mundial de computadores – é um absurdo permitir que os candidatos usem esse instrumento. O TSE ainda está no tempo limitado à mídia impressa, no tempo do papel, da radiofonia em ondas curtas e da televisão analógica.

Não vêem que a chamada “terra sem lei” da Internet – com seus sites, blogs, spams, comunidades – é um espaço que dá chance igual para todos, democraticamente. Essa constatação, por si só, deslegitima a afirmativa dos proibidores, pela qual não pode ser permitido o uso livre da web porque ainda não há legislação que o regule. Se estamos já completando quase duas décadas do uso da rede mundial em nossos computadores, já era tempo, mais que suficiente, para que essa legislação estivesse aí, vigorando.

Até parece que o TSE permaneceu cochilando, dormindo, enquanto lá fora passava a transformação nas comunicações. O tempo passou na janela e só a justiça não viu. Essa espécie de atraso na aceitação e configuração de códigos tecnológicos novos na cabeça dos que detém o poder é uma coisa que vemos inclusive dentro das casas legislativas. Muitas vezes, é difícil convencer o mandante do poder a investir na atualização dos meios operacionais e de comunicação. Eles precisam de aulas introdutórias a esses novos meios, para perceberem que estamos numa idade tecnológica nova, que estamos avançados na “Idade Mídia”. Aí talvez, enfim, caia a ficha!

*Jornalista