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João Paulo diz que Lula não queria João da Costa na disputa

{ Posted on 12:03 by Edmar Lyra Filho }

Por Ana Lúcia Andrade, Joana Rozowykwiat e Sérgio Montenegro Filho, de Política / JC

Na contagem regressiva para deixar o cargo que ocupou por oito anos, lhe trouxe muito trabalho e suscitou polêmicas – mas também lhe rendeu experiência política e administrativa, que o tornou a maior liderança do PT e uma das maiores nas esquerdas do Estado – o prefeito João Paulo, 56, mantém um ritmo intenso até 31 de dezembro. Nem parece estar se despedindo. Quando recebeu o JC em seu gabinete, na quarta-feira (17), às 18h30, sua agenda se estenderia até às 23 horas. As malas ainda não estão prontas para deixar a ampla sala no 9º andar do prédio-sede da PCR. Mas tem consigo os objetos que não pode esquecer de levar.

O quadro do filósofo e socialista alemão Karl Marx, a imagem de Nossa Senhora e a foto tamanho gigante, presenteada por servidores municipais. Não bastassem as dificuldades inerentes ao cargo, a política também exigiu de João Paulo muito jogo de cintura. O mais recente desafio foi o de bancar a candidatura do fiel escudeiro João da Costa. Além das resistências do PT local, ele revela pela primeira vez, nesta entrevista, como se deu a interferência do presidente Lula, que lhe pediu, textualmente, a retirada de Costa.

Mas o prefeito se mostra contundido, mesmo, é com a atuação de “parte da mídia”, que elegeu como a “maior dificuldade” da eleição. Ressente-se também da vigília de “parte” do Ministério Público, que segundo ele “partidarizou” a atuação, e do preconceito que diz ter sofrido por parte da “elite conservadora”, que não aceitava um metalúrgico prefeito. Por último, adverte os aliados que não tem estresse com candidaturas em 2010. Para ele, o governador Eduardo Campos (PSB) não pode abrir mão da condução de sua sucessão. Mas acredita que, no momento, está em condições de disputar o Senado.

JC - Já “caiu a ficha” de que, em poucos dias, o senhor terá uma rotina completamente diferente da que manteve por oito anos?

JOÃO PAULO - Eu defendi uma terceira eleição para o presidente Lula, mas, para mim, nunca. Eu sabia que tinha prazo para assumir e para terminar o governo. Passei por outras instâncias menores do que essas sem problema algum. Fui presidente do sindicato dos metalúrgicos, presidente da CUT, vereador, deputado por dez anos. Quero trabalhar conforme os compromissos assumidos com a cidade, intensamente, até 31 de dezembro. Na semana passada (a entrevista foi concedida na última quarta-feira) fui a Brasília batalhar recursos, ver o PAC, tenho uma porção de obras ainda para inaugurar. Dia 30 inauguro uma com o presidente Lula (o Parque Dona Lindu). Então, até dia 31 eu vou cumprir o que me propus pela cidade.

JC - E depois, não vai sentir falta dessa rotina?

JOÃO PAULO - E vocês acham que eu não tenho o que fazer, fora a prefeitura? Vou voltar a estudar, tirar uns dias para descansar também. Pensar na minha imersão no inglês...

JC - E os projetos políticos?

JOÃO PAULO - De imediato é cumprir essa tarefa que o presidente está me dando, de viajar o Estado e o País. Depois das férias do presidente e de Dilma (Rousseff) eu começo. Passo uma semana fora e volto a conversar com Dilma em janeiro, possivelmente dia 20.

JC - O roteiro das viagens será definido pelo senhor?

JOÃO PAULO - Isso vai ser discutido com o partido, lógico, e as forças políticas. Quero estar aberto conforme a linha do presidente Lula e a minha. Independentemente das tendências. Acho que temos que ter um plano estratégico para o Estado, fazer um mapeamento bem detalhado do quadro em Pernambuco, definir as cidades que vamos priorizar nas intervenções, ter claro a correlação de forças, montar uma estratégia política de intervenção no partido, a relação do partido com os movimentos sociais e ter metas de resultados.

JC - O PT tentou muito essa campanha de interiorização, há uns dez anos que se fala nisso. Essa será sua missão no Estado?

JOÃO PAULO - Também. Acho que o PT tem um trabalho com determinado resultado que a gente precisa ampliar. Vou definir esse roteiro juntamente com as nossas forças políticas e com a direção estadual do partido. Sabendo que tem um desejo do presidente que se faça isso.

JC - É inegável dizer que o senhor ainda é candidato. É político e não tomaria a decisão de não concorrer a mais nada. Esse trabalho de interiorização casa com 2010 e com seus planos políticos?

JOÃO PAULO - Pode casar ou não com 2010.

JC - Já se assiste a uma certa disputa pelas vagas do Senado. O senhor não comenta, mas o comentário está nas ruas. Como é seu comportamento enquanto pré-candidato a senador?

JOÃO PAULO - Em princípio, qualquer político que não está no cargo de governador quer ser senador ou presidente. É normal. Agora, para ser candidato é preciso reunir as condições com possibilidade de vitória. Qual a minha tese para a sucessão em Pernambuco? Primeiro, a reeleição de Eduardo Campos. Sempre digo isso, só que ninguém acredita, o que é que eu posso fazer?

JC - Quem não acredita? Por que não acreditam? A que o senhor atribui essa desconfiança?

JOÃO PAULO - Não sei. Talvez à possibilidade de êxito. Mas defendo que o governador deva ser o coordenador do processo como fui da minha sucessão. Não abri mão. O coordenador de 2010 deve ser Eduardo, de quem somos aliados. Não acredito que haja uma ruptura entre PT e PSB no âmbito nacional. Para mim está muito claro, pelo menos depois da última conversa que tive com o presidente Lula, da clareza dele da relação do PT com o PCdoB, PSB e, possivelmente, com o PDT. E pela relação que o presidente Lula tem com Eduardo Campos é impossível uma ruptura entre PT e PSB. Lula tem ajudado muito o governo de Eduardo.

O governador deve, ao meu ver, escolher os nomes para senador que possam lhe ajudar a ter uma maior representatividade para que ele possa se reeleger e eleger os dois senadores. O que tenho dito é que, hoje, pelo resultado que foi a nossa gestão, eu estaria em condições de disputar (o Senado). Mas a conjuntura, daqui a seis meses, um ano, pode ser completamente diferente. Não tem estresse. Posso disputar um mandato de deputado federal ou não disputar nada. Fui treinado numa organização cristã, revolucionária, sou treinado para matar ou morrer em função dos nossos objetivos. Só não serei candidato a deputado estadual. Já fui por dez anos. Não tenho que voltar.

JC - Hoje há um aparente clima de harmonia no PT. Elogios a João da Costa de facções do partido que o rejeitaram, enfim, um ambiente de tranqüilidade. Mas lá atrás foi muito difícil e o senhor teve que bancar com firmeza a candidatura. Como se deu esse processo? Houve interferência do presidente Lula? Qual foi o momento mais difícil?

JOÃO PAULO - Foram muitas dificuldades. Desde que anunciei que tinha três opções, Lygia (Falcão), João e Múcio (Magalhães), que gerou um certo desconforto interno. Foram muitas as resistências. Chegou o momento em que se defendeu prévias, tinha a candidatura de Luciano Siqueira (vice-prefeito, PCdoB), que é do nosso grupo...

JC - Lula interferiu?

JOÃO PAULO - O presidente me chamou para pedir a retirada da candidatura de João da Costa. Eu disse a ele que era um revolucionário, mas que ia cumprir, se ele mandasse.

JC - Mas o senhor manteve a candidatura?

JOÃO PAULO - O processo foi o seguinte. Ele (Lula) disse que queria retirar (João da Costa), o governador presenciou esse fato, mas eu disse que era importante lembrar que Humberto (Costa) tinha dito que não seria candidato a nada enquanto não resolvesse a questão dos vampiros. Pedi ao presidente uma semana para voltarmos a conversar. Nesse intervalo conversei com Humberto, com o núcleo, com o governador e voltei a conversar com o presidente. Eu achava que depois de ter havido a convenção dos 16 partidos, depois de a gente ter tido uma plenária com mais de mil militantes no Internacional, a cidade não ia entender que outro candidato seria o meu candidato. O PT já cometeu esses erros.

JC - Então o senhor deixou claro ao presidente que se o candidato não fosse João da Costa não seria o seu candidato?

JOÃO PAULO - Seria o meu candidato, mas na minha avaliação a cidade não teria esse entendimento, por mais que eu falasse.

JC - O senhor conversou com o presidente depois da vitória? Ele fez um mea culpa?

JOÃO PAULO - Ele reconheceu que foi o melhor resultado do Brasil para o PT. Mas não deixei ele fazer mea culpa (risos). Ele concordou, no final, com minha avaliação e me disse: “olha, onde nós interferimos o resultado foi pior, conduza da sua forma”. Isso é página virada.

JC - A resistência era ao nome de João da Costa ou à sua liderança política no PT?

JOÃO PAULO - Acho que tinha uma avaliação política. Digo sempre que pode-se até fazer leitura política, mas a prática é o critério da verdade. Eu fazia as minhas leituras e achava que estava certo. Muitos companheiros faziam as suas e achavam que quem estava certo eram eles. A prática mostrou que eu estava correto. Acho que não havia resistência a mim nem a João, mas a avaliação de que outra proposta era mais viável.

JC - Como o governador Eduardo Campos se conduziu nesse momento?

JOÃO PAULO - Ele sempre defendeu que eu conduzisse o processo. Respeitou a instância partidária que o PT definiu.

JC - Mas a relação de Eduardo com o PT sempre foi mais forte com o grupo de Humberto Costa. Sua vitória, ao fazer o sucessor, pode mudar isso?

JOÃO PAULO - A relação do governador não foi sempre com o grupo de Humberto. Acho que ele tem um relacionamento com o PT. Uma relação institucional comigo na condição de prefeito. E com Humberto na condição de secretário dele. As relações são diferentes.

JC - Mas sempre houve um clima de desconfiança do PSB e do próprio governador com o senhor. No período em que o senhor estabeleceu parcerias administrativas com o então governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) esse clima até piorou.

JOÃO PAULO - Sempre defendi a tese de que era importante uma boa relação administrativa com Jarbas. Fizemos muitas parcerias, nunca tivemos dificuldades nesse relacionamento. Mas também temos parcerias com Eduardo. Considero que tive uma participação muito importante na vitória dele. Levamos nosso pessoal. Não estamos tendo dificuldade nenhuma.

JC - Qual a avaliação que o senhor tem do governo dele?

JOÃO PAULO - Eduardo é um excelente quadro. Está com uma gestão extremamente positiva do ponto de vista político e administrativo. É um quadro preparado para assumir um cargo no âmbito nacional. Sei lá, ser vice de Dilma. Acho até que ele tem muito mais condições do que Ciro Gomes (deputado federal e presidenciável do PSB) de disputar a Presidência da República. Sei que ele não iria, por conta das razões que já coloquei.

JC - No discurso, na ocasião do anúncio da equipe de João da Costa, o senhor ressaltou que a eleição não foi fácil. Referia-se a que dificuldades exatamente?

JOÃO PAULO - A maior dificuldade foi com a mídia. Parte da mídia tinha um candidato e não teve uma posição de neutralidade. Tinha um candidato claro, que saiu em editorial de jornal. Não adianta esconder, é melhor assumir mesmo. Não estou dizendo que seja um crime. Mas parte da mídia jogou um papel que dificultou e muito.

JC - Essa “parte da mídia” agiu contra seu candidato?

JOÃO PAULO - Acho que sim, claramente. Houve um certo extrapolamento durante o processo eleitoral. Uma parcialização do candidato. Nos Estados Unidos isso é normal, mas aqui!? Mas sempre tivemos isso aqui. Na minha eleição, em 2000, vocês viram aquela pesquisa publicada num dos nossos jornais. O acordo feito na Justiça para não publicar e depois foi publicado. Não é a primeira eleição que tem isso aqui.

JC - E o momento em que João da Costa ficou sub judice, não foi difícil?

JOÃO PAULO - Claro. Mas teve os editoriais, as matérias de jornal ressaltando os aspectos negativos de um candidato e não publicando as coisas negativas de outros. Claro que teve outros problemas, as ações na Justiça. Por isso polarizei. Em relação ao uso da máquina eu polarizei. Foi quando falei do Bandepe e do BNB. Se questionar 50 mil cartilhas de prestação de contas e uma funcionária lá de baixo, que não é nem cargo de direção, que manda um e-mail da casa dela, dando o endereço daqui, e dizerem que isso é uso da máquina!? Aí decidi ir para a infantaria e dizer quem usava a máquina. Vamos ver quem utilizou o Bandepe, quem pegou dinheiro do BNB, não sobrou um pintinho. Eu banquei politicamente.

JC - O senhor gosta de uma polêmica...

JOÃO PAULO - Adoro. E acho que as questões polêmicas do meu governo, inclusive, me ajudaram, positivamente. Quem hoje é contra o parque Dona Lindu? Quem é contra a retirada das kombis? Quem é contra a orla de Brasília Teimosa? Até Sandy e Júnior, tinha 80 mil pesssoas lá no show!

JC - Sua relação com o Ministério Público também foi recheada de polêmicas...

JOÃO PAULO - Sim. Por que não fizeram isso no tempo que os outros estavam no governo? Por que não questionaram o jornal de prestação de contas de Roberto Magalhães (prefeito que o antecedeu, DEM)? Acho que tem setores do Ministério Público, como setores da mídia, que partidarizam, que têm projetos políticos, que têm articulações políticas e que defendem seus projetos. E que, muitas vezes, utilizam determinadas instituições como instrumento da disputa política. Você pegar uma pessoa que vai para o meio da massa tirar fotos (referindo-se à promotora de Patrimônio do MPPE, Andréa Nunes, no caso da denúncia de suposto uso da máquina na secretaria de Educação)!? E antes até de cumprir os rituais formais manda a matéria para a mídia!

JC - O senhor acredita que foi articulado para derrotar seu candidato?

JOÃO PAULO - Não digo que foi articulado, mas houve muitas atitudes, muito questionáveis, na relação com o nosso governo, que não tiveram com outros governantes. Não vi aquela atitude quando Roberto Magalhães fez o jornal de prestação de contas do governo dele e o encartou no Diario de Pernambuco. Ele encartou! E ninguém questionou nada. Nós fizemos uma prestação de nossas obras e questionaram. E foi para o guia eleitoral, etc, etc. Mas eu também polarizei com isso. Eu disse o que penso, o que acho.

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