Bertoldo Kruse Grande de Arruda // Vice-Presidente do Imip
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Na percepção da demógrafa Elza Berquó, presidente da Comissão Nacional de População e Desenvolvimento, ocorreu na população brasileira um fato preocupante: "enquanto a fecundidade declinou em todos os grupos etários nos últimos dez anos, as jovens de 15 a 19 anos representaram pela primeira vez uma exceção, com um crescimento de 25% entre 1991 e 2000". E uma outra característica despertou a sua atenção: "a maior parte das jovens mães é constituída por solteiras, proporção que veio crescendo no período 1991-2000, passando de 80% para 94%". No seu entendimento esse quadro é, em grande parte , reflexo de "comportamentos de sexo desprotegido" e encontra reforço na feminização da epidemia de Aids, mais presente entre as mulheres mais jovens, pois o número de casos de Aids diagnosticados entre as jovens de 13 a 19 anos cresceu 75% entre 1991 e 2000, e a taxa de incidência de Aids passou de 0,75 por 100.000 mulheres de 13 a 19 anos, em 1991, para 1,86 em 2000.

Na sua breve análise (Berquó, E. Prefácio. In: Juventudes e sexualidade. Castro, M. G., Abramovay, M. e Silva, L.B. - Brasília: Unesco Brasil, 2004)), há várias explicações para o fato de que muitos jovens continuam a praticar sexo sem dupla proteção e alguns estudos têm procurado elucidar o "complexo de ansiedades, curiosidades e vulnerabilidades que caracteriza o universo dos jovens". Por certo, as dificuldades na elucidação decorrem da circunstância da sexualidade no ser humano envolver, segundo estudiosos, as questões de gênero, identidade sexual, orientação sexual, amor e responsabilidade, e ela é experimentada ou expressa em pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, papéis e relacionamentos. E admitem outros aspectos que comprovam a elasticidade da conceituação da sexualidade humana, chegando-se a afirmar que ela é a própria vida, pois "além de nosso corpo, envolve nossa história, nossos costumes, nossas relações afetivas, nossa cultura".

Aliás, é pertinente recordar acontribuição das Nações Unidas, em cujos fóruns internacionais as discussões tornaram mais visíveis a complexa dimensão social e política da relação entre sexualidade, saúde, construção de cidadania e exercício efetivo de direitos. Estão acordes vários autores de que a sexualidade é uma preocupação de todos, e que requer cuidado consciente, principalmente dos adultos que se relacionam e têm papel relevante na vida dos jovens. Daí a importância do I Encontro Imip de Prevenção e Controle da Aids, em 01/12/2008, ensejando debates que sinalizam avanços em tempos de Aids, em especial no que diz respeito à prevenção, e apontam para a abordagem de temas prioritários na cultura juvenil, em tempos que preocupam a "juvenilização" da fecundidade e o aumento da gravidez entre adolescentes.

Reconhecem os analistas sociais não ser bastante, na luta contra a Aids, transmitir conhecimentos: é indispensável realizar "uma grande, profunda e duradoura mudança de atitudes, uma mudança de comportamentos", e "mudar as atitudes e os comportamentos das pessoas não é impossível, porém nunca é fácil". Assim, um contributo inestimável é mobilizar o vasto potencial da cultura com sua riqueza de respostas e práticas locais, que proporcionam uma variedade imensa de recursos. E a conscientização de que todos nós e não somente os professores devemos ser "educadores de temas da vida, do cotidiano", e que não basta conhecimentos, mas desconstruções por reflexões e debates acerca das percepções contemporâneas da temática em foco.

Artigo Publicado no Diário de Pernambuco, 05/12/2008.