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“Governo João Paulo foi uma fraude”

{ Posted on 00:43 by Edmar Lyra Filho }

Crítico ferrenho do modus operandi do PT em todo o País, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, acredita que a Era João Paulo (PT) no comando do Recife não passa de uma “fraude”. Para o tucano, o ex-prefeito - a quem chamou de uma pessoa “simpática” - é responsável, apenas, por ações pontuais, que não trouxeram nada de “progressista” para a cidade. Coincidência ou não, o parlamentar concedeu esta entrevista à Folha na cobertura onde mora, em Piedade, na última terça-feira, no exato momento em que, bem perto dali, em Boa Viagem, João Paulo inaugurava, na companhia do presidente Lula (PT), a primeira etapa de sua mais grandiosa obra: o Parque Dona Lindu. Questionado sobre a viabilidade do parque, Sérgio Guerra chamou-o de uma “manifestação primitiva, pretensamente intelectual, do ex-prefeito”, para depois taxá-lo de inviável do ponto de vista econômico e arquitetônico.

O prefeito João Paulo entregou, na última quinta-feira, a primeira etapa do Parque Dona Lindu com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), filho da homenageada. Para o senhor, a obra era necessária?

O presidente Lula tem uma clara consciência do seu conteúdo eleitoral. Ele sabe que as suas reservas mais sólidas estão no Nordeste e nos estados que tenham maior componente de pobreza. Pernambuco não é exatamente o estado mais pobre, mas é, seguramente, onde a simbologia da pobreza das forças socais é mais evidente e histórica. Lula compreende isso, por isso fez algumas dezenas de visitas a Pernambuco, este ano (2008) já vão cinco. Quem não compreende isso direito é quem fez essa obra do Parque Dona Lindu - uma justa homenagem à mãe pernambucana do presidente da República que é pernambucano também. É um projeto num lugar completamente inadequado. Preciso vê-lo concluído para considerá-lo um bom projeto. A primeira impressão não é positiva, mas é cedo para dizer se é ou não um bom projeto. Tem que ver o funcionamento dele, o conjunto da arquitetura dele, qual vai ser o componente estético final. Agora, fica claro que não faz sentido construir um bloco de concreto armado daquela dimensão na frente do mar. Não tem muito a ver nem com a arquitetura nem com o ambiente que está em torno dele. O prefeito João Paulo, num dia desses, disse uma besteira monumental. Afirmou que é uma espécie de Taj Mahal. Nunca na minha vida eu vi tanta falta de competência intelectual, nunca na minha vida! Não se deveria falar besteira. Agora, evidentemente que um projeto de Oscar (Niemeyer) é um projeto de Oscar. Agora, há projetos de Oscar, projetos de Oscar e projetos de Oscar. Vamos ver como será esse.

Então, o senhor não aprova a estratégia do ex-prefeito João Paulo?

De toda maneira não faz sentido, não é culturalmente adequado. Arquitetonicamente não me parece adequado. Enfim, uma manifestação primitiva, pretensamente intelectual do ex-prefeito do Recife. Se esse (João da Costa) é a continuação dele, dos dois. Do ponto de vista econômico também. Uma cidade como o Recife, com um monte de gente na lama... Trinta milhões num projeto desses é uma manifestação absurda. Mas engraçado é dizer que faz isso, que é popular e que é da esquerda. Não dá para levar a sério. É natural que o presidente venha aqui para inaugurar uma obra do prefeito do partido dele. Não sei nem qual o julgamento que o presidente faz do prefeito. Não estou certo de que seja positivo. Agora, de toda maneira, ele está aí inaugurando uma obra que tem o nome da mãe dele. Nós queremos dizer que é uma homenagem justa.


Qual a avaliação que o senhor faz dos oito anos de mandato do prefeito João Paulo?


Veja, o que é que se pode esperar de um governo que se diz popular? Volta lá atrás no primeiro Governo Miguel Arraes, que foi da Prefeitura do Recife. Produtos desses governos entre outros, o Movimento de Cultura Popular, um novo padrão para a educação brasileira, um novo conteúdo para a política popular progressista que passa pela educação de fato. Avança no tempo e chega ao Governo de João Paulo. Sinceramente, Gustavo Krause estava à centena de metros dele no sentido da esquerda do ponto de vista prático, que é o que importa. E ele repete aí um governo convencional, sem grandes obras. Se pelo menos ele reestruturasse o Recife, se investisse na infraestrutura da cidade, se cuidasse do transporte de maneira real - nada de maquiagem, soluções conjunturais de botar o trânsito para lá e para cá, que inclusive não era idéia dele, era na realidade da EMTU no Governo de Jarbas. É um governo que não tem o que dizer. Algumas obras nos morros que não são tão significativas assim. Lá atrás muita coisa já havia sido feita, mais do que ele fez. Do ponto de vista de habitação popular, zero. Do ponto de vista de saneamento, quase nada. Do ponto de vista da Educação, um flagelo. Do ponto de vista de Saúde outro flagelo. Do ponto de vista da cidade, da inspiração progressista da cidade, cultural da cidade, educacional da cidade, nada. Festa, festa e festa! Um processo de animação para uma grande parcela da população que muitas vezes não tem conteúdo político...

Política do “pão e circo”?

É um exagero chamar “pão e circo”. Evidentemente que nada de real. Nada de concreto, nada de progressista, nada de avançado. Nada que tivesse a ver com a verdadeira tradição do Recife, que está marcada lá atrás em muitos episódios. Eu acho - e nada de pessoal contra João Paulo, que é muito simpático - que o governo dele é uma fraude. E que essa fraude se desvendará.

O senhor lembrou agora há pouco o primeiro Governo Arraes. Quais as semelhanças que o senhor encontra entre as gestões do ex-governador, falecido em 2005, e do seu neto, Eduardo Campos?


Acho que Eduardo vive em um ambiente completamente diferente do que Arraes viveu. Arraes viveu três governos. O primeiro, na véspera do golpe de 64, quando ele liderou um processo de revolta popular não apenas em Pernambuco, mas no Brasil. Volta ao Governo depois do período autoritário com uma grande votação popular e realiza uma obra de reconciliação e pacificação política do Estado. Depois, atuou no campo que ele sempre atuou, do movimento popular para os camponeses, pequenos produtores. E fez grande esforço do ponto de vista de Suape. Eu fui até instrumento de grande parte desse esforço porque fui secretário dos dois governos dele. Avançou bastante na área de Ciência e Tecnologia, levou a sério a questão da Educação, um governador de qualidade. Agora, é claro que submetido às regras nacionais que o pautavam e sem a facilidade de recursos federais que hoje se dá. O Brasil não crescia nada, os investimentos eram mínimos, e menos ainda esses investimentos se davam no Nordeste, onde a economia era estruturalmente fraca. Agora não é assim. O Brasil tem superávit, o Brasil cresce. Ou pelo menos até ontem quando o mundo também crescia de forma bastante acentuada. Eduardo encontra um novo ambiente que não teria se dado se não houvesse o Governo de Jarbas Vasconcelos (PMDB) antes do dele. Que estruturou a base para que as iniciativas prosperassem no Governo dele. A questão da refinaria vem de muito tempo atrás, avançou no Governo Jarbas e se consolida no de Eduardo. O estaleiro, que se estrutura antes, no Governo de Jarbas, amadurece e se desenvolve no Governo de Eduardo. Todo o movimento de infraestrutura: duplicação da BR 232, modernização do Aeroporto Internacional do Recife, são coisas simbólicas e economicamente reais. Elas se concretizavam praticamente antes e favoreceram a base pela qual o Governo de Eduardo avança. Eduardo encontrou um Estado equilibrado do ponto de vista fiscal e financeiro. É natural, previsível e provável que ele tivesse reclamações a fazer, e as fez. Mas é importante reconhecer que o Estado que Jarbas deixou é bom de se governar.

Então, a avaliação que o senhor faz desses dois anos do Governo Eduardo Campos, mesmo na oposição, é positiva?


Acho que Eduardo tem um grande esforço de governo, com algumas áreas críticas. Eu citaria Saúde e Segurança, que ele tem cuidar muito. Reconheço que ele tem feito grande esforço. Mas esse esforço é muito mal sucedido. Eu não torço para dar errado. Tem um sentimento aqui primitivo de que quem está na oposição, quem enfrenta o governo, tem que torcer para dar errado. Eu não faria isso nunca. Nunca fiz isso. Era deputado federal, colaborei com todos os governos que eram adversários aqui. Inclusive, com o próprio Jarbas, quando eu era do PSB e ele do PMDB. Com Roberto Magalhães (DEM), quando era oposição a ele. Com Joaquim Francisco (DEM), quando era da oposição a ele. Acredito que a nossa divisão aqui é irreal do ponto de vista das questões do Estado. Sobre ela nós não podemos nos dividir. Sobre outras, tudo bem. Eu quero dizer que o Governo de Eduardo vai mal nas áreas de Saúde e Segurança. Mas eu não posso deixar de dizer também que eu conheço João Lyra Neto (PDT / vice-governador e secretário estadual da Saúde), que uma vez me apoiou para deputado federal, e que fiz a campanha toda dizendo o que eu achava de João Lyra, que um dos administradores públicos mais competentes que eu conheço. É verdade isso! Eu acho isso. João deve estar enfrentando enormes obstáculos para construir um governo eficiente, que ele gostaria.

Trata-se de uma pasta complicada. O senhor não acha?

Essa área é explosiva no Brasil inteiro. Eu acompanhei nessa eleição de presidente no Brasil todo e o tema central para 90% dos brasileiros onde havia mais vulnerabilidade era a questão da Saúde (Em 2006, Sérgio Guerra foi o coordenador-geral da campanha do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmim, do PSDB, à Presidência da República). Aqui em Jaboatão era a questão da Saúde. Lá no centro-sul, no Sudeste, em todo o lugar. A questão da Segurança em Pernambuco tem enquadrado no mau sentido governadores. Ninguém tem conseguido construir uma solução absoluta; um esquacionamento mais produtivo para que se mostrassem resultados. Eu não vejo evolução nenhuma. Acho que o quadro está caótico, mas torço para isso tudo dar certo.

Há alguma possibilidade de uma aliança entre o seu grupo e o do governador em Pernambuco, haja a vista o fato de o senhor ter tido sua formação política no arraesismo?


Não. No campo político temos lados bem definidos. Saí do PSB e ingressei no PSDB porque sou um social-democrata, acredito na social-democracia. Respeito Eduardo Campos, mas meu campo é outro.

A oposição se articula para lançar um nome forte que reuna as condições para derrotar Eduardo Campos, em 2010. E o seu é tido como um dos mais viáveis. O senhor aceitaria ser candidato do grupo de forças que outrora formou a antiga União Por Pernambuco?


Sou candidato ao Senado. Meu trabalho é para renovar meu mandato de senador. Acredito que o nome com mais força para vencer os governistas é o do ex-governador e senador Jarbas Vasconcelos (PMDB). Trabalho com essa alternativa.

E Jarbas aceitaria ser candidato?

Ele será candidato.



Folha de Pernambuco

1 Response to "“Governo João Paulo foi uma fraude”"

coisas chegam a ser engraçadas...
Os políticos são todos iguai.
Eu também li "As 48 leis do Poder", do Robert Greene, gostei muito.
Tu és muito inteligente.
Parabéns.

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