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Artigo: Luiz Gonzaga - 96 anos

{ Posted on 02:07 by Edmar Lyra Filho }

Inocêncio Oliveira // Deputado

Dia 13 de dezembro, o nosso querido Luiz Gonzaga completaria 96 anos de idade. Para mim, tal qual o rei do baião, sertanejo de Pernambuco, não basta somente a Lei nº 11.176/05, que instituiu aquele data como o dia do forró, para homenageá-lo. Isso é muito pouco para quem tanto fez pelo Sertão, para quem cantou o Nordeste sem de nada esquecer e para quem encantou a alma do povo brasileiro com sua sanfona e sua voz inconfundível. Enquanto uma fogueira arder na frente da casa do sertanejo, numa noite de São João; o silêncio dos mandacarus for quebrado pelo bater de asas de uma solitária asa branca; os gemidos dos punhos de uma rede fizerem coro ao canto da mãe que o filho embala; o gibão, as perneiras, o guarda-peito, o chapéu de couro, o chacoalhar das rosetas das esporas ao andar vaqueiro, tudo isso somar-se ao eco do seu aboio nas caatingas sertanejas; o rangido dos gonzos de uma porteira; o trote compassado de um cavalo bom de sela; e o som do zabumba, do triângulo e da sanfona chegar aos nossos ouvidos pelos embalos nostálgicos das lembranças, o saudoso Lua, de uma forma ou de outra, será festejado e encherá de festa nossos corações.

Sua estada nas forças armadas serviu para ampliar seu domínio sobre diversas culturas populares. Foi durante uma temporada que passou em Minas Gerais que Gonzaga conheceu aquele ritmo gostoso, bom de dançar e de cantar, e de se ouvir também: o Calango. Naquelas paragens itinerantes, aos poucos, tudo quanto era novidade, - e não eram poucas para quem só conhecia Exu e a circunvizinhança juntou todas suas economias, e como não tinha profissão definida, adquiriu a única ferramenta que lhe serviria naquele momento: a sanfona, que terminou sendo sua eterna companheira. "Quando eu boto ela no peito sinto o mundo em minhas mãos" dizia ele, referindo-se àquele instrumento que fez parte dos momentos mais significativos de sua vida.

Superou-se a si mesmo. Fez da sanfona uma jangada e do seu canto original o leme para atravessar esse mar de obstáculos e alcançar o reino que o esperava em festa, ao som de "asa branca". Começou só e reinou sozinho. Deixou inúmeros seguidores. Alguns deles como Dominguinhos, Marinês, Trio Nordestino receberam dele incentivos tão intensos que se tornaram decisivos para a consolidação de suas carreiras.

A Dominguinhos ele cansou de dizer: você vai ficar no meu lugar. Hoje são incontáveis seus seguidores. A fazenda São Miguel, em Serra Talhada, minha terra natal - e como eu gosto de dizer isso! - é celeiro de sanfoneiros. Uma característica interessante nos sanfoneiros da atualidade é a rapidez nos dedos durante a execução de uma melodia. Zé Marcolino, compositor de Luiz Gonzaga, em "salão de barro batido" onde fala de uma noitada de forró, faz referência aos dedos do tocador de sanfona: Zé Marcolino, meu amigo; Zé Dantas, conterrâneo do Pajeú; e Humberto Teixeira, nordestino, foram os três pilares que alimentaram Gonzaga durante sua trajetória musical, sem esquecer, evidentemente, do pernambucano João Silvade Arcoverde que compôs inúmeras músicas para o Rei e do qual era amigo próximo. No dia 2 de agosto de 1989 silenciou para sempre aquele aboio que só ele sabia fazê-lo com a melodia da saudade. Já deve ter se encontrado com outros sanfoneiros que, como ele, cantaram em prosa, verso e sanfona, o nosso Sertão e todo o Nordeste.

Artigo Publicado no Diário de Pernambuco, 4 de Janeiro de 2009.

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