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As prévias tucanas e os fatos.

{ Posted on 13:01 by Edmar Lyra Filho }
Por Reinaldo Azevedo

Prévias partidárias, como quer o governador Aécio Neves (MG) para o PSDB, são uma boa idéia? Por que não? Quanto mais debatido o processo, mais depurado. Essas coisas me lembram certas teses gerais a respeito do homem ou da sociedade. “Você é favorável a que cada indivíduo lute para conquistar tudo aquilo que deseja?” Sou, claro! Mas como ele vai fazer? Bem, os problemas acabaram de começar, não é?

Se olharmos para os Estados Unidos — especialmente para o obamocentrismo (já defini o que é isso neste blog) —, parece irresistível aderir de pronto àquele modelo. Com efeito, poucos se lembram de considerar que o demônio (deles, não meu) aposentado George W. Bush saiu do mesmo modelo que deu à luz o Salvador. Mas volto ao ponto: “Olhem como as primárias americanas realmente serviram para ‘engajar’ o eleitorado americano”.

Uma tradição é algo mais do que a escolha de um mecanismo de seleção de candidatos. Nos EUA, as eleições primárias são apenas uma das manifestações de um modelo realmente federalista, cuja realização máxima é a escolha do presidente por um colégio eleitoral formado a partir do resultado nos estados. Nas duas eleições de Bush Harmodeu, muitos se lembraram de acusar o envelhecimento daquele modelo; já na eleição do Obama, o Enviado, o sistema foi exaltado. É o que se chama de arbitragem sobre o princípio a partir das conseqüências.

Sigamos. O sistema americano contempla que Hillary Clinton possa chamar o candidato Obama de arrogante e despreparado num dia e, cinco meses depois, seja um dos nomes principais da equipe do presidente Obama. Porque a regra do jogo — PARA TODOS OS JOGADORES — é esta mesma: “Vá à luta, tente conquistar os eleitores nos Estados; o vencedor, de fato, ficará com todas as batatas (os convencionais). E aí partimos para o confronto com os nossos adversários”. Como todos sabemos, nos EUA, democrata não ameaça se bandear para o lado republicano se for derrotado na disputa interna — tampouco acontece o contrário. Da mesma sorte, democratas e republicanos não se juntam numa chapa única em, sei lá, “benefício do povo americano”. A convergência, por lá, se dá em defesa do sistema, não para dividir o poder. Palmeirense é palmeirense. Corintiano é corintiano. Desde criancinha.

Prévias são apenas um dado num conjunto que organiza a disputa eleitoral. Assim como os democratas se esfalfam para chegar ao nome que mais agrade ao partido, os republicanos fazem a mesma coisa. Não se tem o confronto esganiçado de um lado contra a ordem unida de outro. E noto que, ainda assim, Hillary Clinton foi bastante pressionada a retirar seu pleito em favor de Obama: temia-se que o prolongamento do conflito fosse útil aos republicanos. E teria sido mesmo. A sorte eleitoral de Obama foi a crise ter explodido antes da eleição. Não custa lembrar que, mesmo num cenário de terra arrasada, num universo de 120 milhões de votos, pouco mais de oito milhões separaram o democrata do republicano: muito pouco se considerarmos o arco de apoios de Obama, o Iluminado. Sem a crise, talvez Hillary tivesse feito por McCain o que McCain não conseguiu fazer por si mesmo.

Voltemos ao PSDB. Projetemos a realidade de agora para um futuro próximo. Uma das pautas permanentes do jornalismo político é evidenciar as dissensões entre Aécio Neves e José Serra. E isso sem um mecanismo formal de disputa estabelecido. Imaginem se houver um. Gestões terão de ser confrontadas, e haverá o estímulo natural ao processo de desconstrução de imagem do “outro”. Mais: as prévias se realizariam num ambiente de crise econômica mundial e, evidentemente, nacional. Seria grande a demanda por antecipação de medidas. “A política monetária será a mesma? E o Banco Central? Vai ser independente?”

“Ah, tanto melhor, Reinaldo”. É, só é preciso ver para quem. E do “outro lado”? Como estaria a sanguinolenta disputa no PT para definir o candidato? QUE DISPUTA? QUE CONFRONTO? Não existirá. Ao contrário. Os tucanos ficariam entre tapas e tapas, os petistas exibiram reiteradas evidências de unidade. E poderiam dizer, com óbvia razão prática: “Vejam, brasileiros, eles não se entendem nem antes de ganhar as eleições; imaginem, então, se voltarem ao poder; vai ser uma briga infernal, uma bagunça”.

Alguns partidários de Aécio Neves não hesitariam em classificar este texto como, digamos, “serrista” — ainda que eu não tenha lido nenhuma declaração do governador Serra contra as prévias. Bobagem! Estou escrevendo um texto, se me permitem o neologismo, “OBVISTA”. Ora, confronto de um lado, união do outro, adivinhem que reunirá as melhores condições objetivas para vencer.

Ademais, existe uma lógica no processo — e, de novo, se querem evocar a experiência americana, é bom que ela seja inteira. Nas prévias nos EUA, é o eleitorado quem de fato vota, não apenas os “convencionais” ou filiados. Serra lidera, com larga vantagem, as pesquisas de opinião. O que é verdade para o eleitorado no seu conjunto deve ser também verdadeiro para uma parte dele: a parcela do PSDB, não? Ou alguém ousaria formar um colégio eleitoral que não reproduzisse a vontade da maioria dos eleitores, sejam eles tucanos ou não? Assim, o argumento de que o governador de São Paulo pode ser o candidato da cúpula, mas não das bases, não encontra respaldo nos números. “Ah, mas essa é a verdade hoje; não quer dizer que continue assim em outubro do ano que vem”. Bem, gente, em questões políticas e sociais, a verdade será sempre a verdade de um determinado tempo. Pode-se escolher ignorá-la em nome da "verdade futura". É um modo de ver as coisas.

Mas, claro, conto com a possibilidade de estar errado e de a disputa tucana realmente incendiar os corações, evidenciando para os brasileiros que aquele monolitismo petista não é bom para o Brasil. Se a história serve para alguma coisa, não custa lembrar que, unidos, os tucanos venceram o PT duas vezes. Desunidos, tomaram duas surras. Questão de fato, não de gosto.

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