Por Terezinha Nunes

No final do ano e das previstas análises sobre o que aconteceu no Brasil e no mundo, o presidente Lula foi brindado com referências elogiosas pelos principais veículos da imprensa europeia - Le Monde, El País e Financial Times - e ganhou também ótimas referências em artigo escrito pelo primeiro ministro espanhol José Luíz Zapatero.

A reprodução do assunto nas manchetes dos jornais brasileiros, como é natural, focou no principal, os elogios. Por conta disso, poucos tomaram conhecimento de que todos os protagonistas dos elogios ao presidente, creditaram o seu sucesso ao que fez, antes dele, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Pontuaram que foi a inflação baixa que permitiu a boa performance de Lula e fez o Brasil atravessar a crise econômica sem os atropelos vividos pela maioria das nações. Neste ponto deixaram claro que Lula teve um mérito, o de ter conservado a política econômica de Fernando Henrique, não acompanhando a sanha dos petistas mais radicais que queriam até reverter o processo de privatização de algumas estatais.

Agora também surge outra análise, esta mais social, mostrando que o Brasil não começou ontem como tenta fazer crer tanto Lula quanto o PT. Trata-se de uma avaliação dos programas sociais da era FHC (1996 a 2002) e da era Lula (2003 a 2008) feita pelo professor Cláudio Salm, com base na Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios, revelada este domingo pelo jornalista Elio Gaspari.

E o que mostra a análise? Mostra, com todas letras e números, que os 50 milhões de brasileiros que se encontram abaixo da linha de pobreza, foram tão beneficiados no governo FHC quanto no governo Lula, com alguma vantagem para o presidente tucano.

Em 1996, por exemplo, quando FHC assumiu, somente 48,5% das residências das pessoas mais pobres tinham água encanada. Quando ele saiu este percentual já estava em 59,6% (um aumento de 11,1%). No governo Lula, entre 2003 e 2008 chegou-se a 68,3% (um aumento de 8.7 %, menor que na etapa anterior)

No que se refere a saneamento básico, FHC deixou o sistema implantado em 41,4% dessas residências (expansão de 9,1%). No governo Lula a marca chegou a 52,4%, tendo avançado 11,3%.

No que se refere ao acesso das pessoas pobres à luz elétrica, quando FHC assumiu 79,9% desses domicílios tinham o benefício. Quando ele saiu, a luz já tinha chegado a 90,8% (aumento de 10.9 pontos percentuais). Em 2008, sob o governo Lula, chegou a 96,2% (aumento de pouco mais de 6 pontos).

No governo FHC pulou de 5,1 % para 28,6% o número de domicílios pobres que contavam com telefone. Na gestão de Lula o percentual chegou a 64,8% por conta da telefonia celular implantada na gestão tucana. No caso das geladeiras, no governo FHC o percentual desses domicílios com o eletrodoméstico subiu de 46,9% para 66,1% (20 pontos a mais). No de Lula chegou a 80,1% (20 pontos a mais).

Com a revelação desses números dá para entender porque o presidente e seu partido, o PT, querendo ganhar o debate no grito, como fizeram durante anos, inclusive quando foram contra as medidas implantadas por Fernando Henrique, ficam sempre repetindo que "nunca antes na história desse país tanto se fez".

Agora se sabe que nunca antes na história deste país se ludibriou tanto a opinião pública quanto agora. Lula fez sim, inclusive teve a coragem de manter a política econômica de FHC e entregar o BC a um neoliberal, Henrique Meirelles, mas não fez mais do que Fernando Henrique. Ambos têm seus méritos e estes devem ser reconhecidos.

No futuro FHC vai entrar para a história como o presidente que verdadeiramente tirou o Brasil do atoleiro da hiperinflação, nos deu moeda estável e o povo brasileiro fez o resto.