*Por Adriano Oliveira

1. Com a suposta desistência de Aécio Neves, diversos cenários são construídos e conclusões apressadas vêm à tona. Quando isto acontece, o quadro eleitoral fica obscuro, pois os atores não conseguem fazer análises adequadas e por conseqüência constroem cenários errados. Hipotéticos cenários podem ser construídos. Estes servem para orientar as estratégias dos atores.

2. Aécio pode ser candidato à presidente da República. Ele disse que desistiu. Mas vejam: 1) o recuo do governador de Minas lhe proporcionou espaço na mídia; 2) acelerou as articulações partidárias; 3) mostrou que com José Serra o PSDB poderá ficar só, a não ser que Dilma ou Ciro não cresça; 3) deu-lhe importância intrapartidária. Portanto, Aécio, com a possível desistência de Serra, poderá, ainda, ser o candidato à presidente. Ele não deve ser descartado.

3. José Serra poderá desistir da candidatura. Como já frisei por diversas vezes, a estratégia do PT está correta e ela tem condições de esmagar o PSDB nas urnas. As pesquisas comprovam esta minha afirmação. Serra é o anti-Lula. Serra foi o competente ministro de FHC. Este, por sua vez, sofre forte rejeição do eleitorado. Então, com Serra candidato, a eleição tem que ser – analisando mercadologicamente – plebiscitária. Lula, por um lado, tem a sua administração bem avaliada. E FHC de outro, o qual não contagia o eleitorado brasileiro.

4. Aecio vice de Serra: chapa imbatível. Esta assertiva é verdadeira ou falsa? Desconfio que seja falsa. Por que o eleitor votará no vice? Se o eleitor deseja votar em Aecio, votará nele para presidente. O vice importa numa disputa eleitoral? Eleitoralmente não. Politicamente, emocionalmente e financeiramente sim. Politicamente em razão de que o vice pode atrair apoios partidários. Emocionalmente por conta de que ele pode dar leveza a chapa junto ao eleitor – este foi o caso de José Alencar na chapa do presidente Lula. E financeiramente em razão de agregar interesses econômicos em torno da chapa.

5. Dilma crescerá eleitoralmente. Outro raciocínio apressado. Pois Ciro também poderá crescer. Faltam palanques estaduais a Ciro e tempo de televisão. E Eduardo Campos, após ser ameaçado pelo PT, pode retirar a candidatura do cearense. Ciro é, ainda, uma incógnita. Como já frisei: Ciro parece ser um brinquedo de Lula. Mas não pode ser desprezado.

6. Dilma tem condições concretas de vencer o pleito, pois conta com o apoio de Lula. Mas isto não é suficiente. É preciso observar o seu desempenho na trajetória da campanha eleitoral. Quanto a Serra, caso seja realmente candidato, ele precisa mostrar para a opinião pública que não é o anti-Lula e que é o mais competente para dar continuidade e ampliar mais as ações do atual governo. Portanto, neste instante, o resultado da eleição de 2010 é ainda uma grande incógnita.

*Adriano Oliveira é cientista político e coordenador de pesquisa do Instituto Maurício de Nassau.