Por Júlio Lóssio*

Deu no jornal:

O pré-candidato à presidência da república, Ciro Gomes, afirma: “Juntaremos os políticos decentes em apoio a candidatura do Governador Aécio Neves à Presidência da Republica”

A princípio, lamentei ver o governador Aécio Neves, cuja história e genética estão diretamente ligadas a conciliação e ao espírito democrático, permitir que a escolha do principal candidato das oposições a Presidente da República siga o caminho da desconstrução política o que colide frontalmente com a filosofia propositiva com foco em resultados praticada pelo governador José Serra e pelo próprio governador Aécio Neves, cujos resultados encontram apoio popular respaldado no resultado das urnas.

Como admirador confesso do governador Serra, sinto-me pessoalmente ofendido com a afirmação do deputado Ciro Gomes que traz, ao nosso ver, uma definição própria e equivocada do que seja decência.

Se não vejamos:

Ciro Gomes iniciou sua vida pública como candidato a vice-presidente da UNE, na chapa Maioria, que, na época, foi vista como uma tentativa da direita em influenciar o ambiente estudantil, e aí inicia-se uma longa trajetória de atos de decência.

Jose Serra foi presidente da UNE e, por sua posição em defesa do estado democrático de direito, foi perseguido e exilado.

Ciro adentrou na política partidária como filiado do PDS, partido sucessor da ARENA, que dava sustentação à ditadura militar. Contudo, no ano de 2002, o então candidato a Presidência da República, Ciro Gomes, afirmou que havia combatido a ditadura militar numa atitude de muita decência.

Ciro mudou para o PMDB, depois para o PSDB, tendo inclusive apoiado Mário Covas para presidente nas eleições de 1989. Mário Covas, que foi o grande patrocinador do PSDB paulista, hoje tão criticado e agredido pelo deputado cearense, ou melhor, pelo deputado paulista Ciro Gomes, numa atitude sem dúvida decente.

Ciro ainda filiou-se ao PPS para concorrer à Presidência da República. Contudo, a posição crítica do presidente da legenda Roberto Freire às mazelas do governo federal, cristalizadas no escândalo do mensalão, fizeram o eterno governista Ciro Gomes, em mais uma atitude de muita decência, abandonar o partido.

Ciro busca então abrigo no PSB de Miguel Arraes que como Serra e Dilma foram perseguidos pela defesa da democracia.

O governador Serra foi reconhecidamente o melhor ministro da saúde do Brasil. Já o deputado Ciro Gomes teve sua passagem no Ministério da Integração marcada pela truculência estampada no modo decente com que tratou a atriz Letícia Sabatella e o Frei Cappio pelo simples fato de exercerem o direito democrático do contraditório.

Por contrariar o então ministro Ciro Gomes, o deputado ACM Neto foi classificado de “tampinha” e “anão moral”, contrariando o Senador Antônio Carlos Magalhães, cuja mão foi beijada pelo candidato Ciro Gomes em mais uma atitude decente.

Por fim, contrariando a orientação do seu partido, do presidente da legenda, governador Eduardo Campos e do próprio presidente Lula, que orientam apoio velado à ministra Dilma, afirmou Ciro Gomes que daria apoio a candidatura da oposição encabeçada pelo PSDB, caso o candidato escolhido fosse o mineiro Aécio Neves. Estaria o Deputado Ciro Gomes traindo a liderança do Presidente Lula e do governo Eduardo Campos, ou estaria ele a serviço da desconstrução da candidatura do governador Serra? Em qualquer um dos casos mais uma atitude de muita decência.

Portanto, a nova definição de decência cuja “cirogramática” caracterizou, me faz concluir que não quero ser decente. Prefiro a dissidência. A dissidência de Jarbas, a dissidência de Pedro Simon. Voto Serra. Se não, voto na dissidência de Marina e até em Dilma. Não votarei na decência. Sou dissidente.

*Júlio Lóssio é prefeito de Petrolina.